No dia 30 de abril estaremos comemorando os 168 anos de inauguração da primeira Ferrovia do Brasil, a Estrada de Ferro de Petrópolis da Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estaleiros Mauá, mais conhecida por E. F. Mauá. A Mauá começou com uma extensão pouco maior que dez milhas terrestres, ligando o cais-estação (hoje em ruínas) nos fundos da Baia da Guanabara, em Guia de Pacobaíba, Magé, até o pé da Raiz da Serra de Petrópolis, na localidade de Vila Inhomirim, ainda em Magé.
De lá para cá a nossa malha ferroviária evoluiu até o pico de 37 mil km em 1957, época da criação da – hoje extinta, RFFSA – decrescendo daí em diante até a marca de 29 mil km quando foi entregue em 1996 para exploração da iniciativa privada por 30 anos, mas que poucos quilômetros adicionou à malha. Ao contrário, abandonaram mais de 14 mil km, operando somente no filet mignon, que consiste em corredores de exportação de commodities agrícolas e minerais. A carga geral (tudo aquilo que está na sua casa, no trabalho, na loja, no bar, na oficina, na obra, na escola, no hospital, no posto de gasolina e etc.) continua sendo transportada por rodovias.
E quanto aos passageiros? Estes ficaram reduzidos às operações nas regiões metropolitanas das grandes capitais, aos trens de passageiros de longa distância da Vale (Belo Horizonte/MG à Vitória/ES e Parauapebas/PA à São Luiz/MA) e aos heroicos vinte e poucos Trens Turísticos (TTs), cuja grande maioria encontra-se em operação nas Regiões Sul e Sudeste, operando nos finais de semana e em trechos de pouco movimento de cargueiros ou que estavam completamente abandonados e foram recuperados. Completa a lista seis TTs paralisados e quatorze ainda no papel.
E ficamos por isso mesmo? Claro que não. O “lado bom” do vigoroso aumento dos combustíveis passou a direcionar olhares para o transporte sobre trilhos. De imediato suscitou-se a pergunta por que um País continental como o Brasil tem uma malha ferroviária tão pequena? As primeiras respostas revelam que houve um grande equívoco ao dar prioridade para o rodoviarismo conjugado à baixíssima capacidade do Governo Federal administrar e investir em obras ferroviárias.
Felizmente surgiu uma Lei recente que quebrou um paradigma enraizado na cultura nacional de que é competência exclusiva do governo investir em ferrovias. O programa Pro Trilhos do Ministério da Infraestrutura, amparado na Lei 14.237/2021, estimulou a iniciativa privada a apresentar e implantar projetos por sua conta e risco. Prova disso são os 78 requerimentos de novas ferrovias protocolados no Minfra, que totalizam mais de 20 mil km de linhas e 237 bilhões em investimentos. Ao que parece, 100% desses projetos são somente para transporte de commodities, posto que passageiro reclama; carga não!
Paralelamente a essas perspectivas, tem surgido em nível estadual, Planos Estratégicos Ferroviários-PEFs, para implantação de Trens Turísticos, Trens Regionais de Passageiros e pequenos cargueiros Shortlines, para trafegar em linhas ociosas ou abandonadas nos Estados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro. Os PEFs de Minas e São Paulo vão muito bem, obrigado. Mas o PEF Fluminense parece que foi esquecido no famoso arquivo circular (lixo), pois o governo do Estado ainda não apresentou uma pauta para o setor ferroviário (exceto multar a Supervia).
Participaram da modelagem desses PEFs, não somente Empresas de Consultoria em Engenharia & Projetos e membros de entidades pró-trens que apresentaram alguns dos seus mais caros projetos, mas também representantes do parlamento estadual (Deputados) através de suas Comissões e Frentes Parlamentares. Minas, por exemplo, tem a sua bastante operante Comissão Extraordinária Pró-ferrovias Mineiras. O Estado do Rio também chegou a ter a sua Frente Parlamentar Rio de Volta aos Trilhos que, infelizmente, descarrilou antes mesmo de entrar na linha. Oremos para que surja uma nova Frente no ERJ mas, pelos históricos da ALERJ, parece que os nobres deputados fluminenses não estão muito sensibilizados para dedicar atenção especial para esse modo de Transporte Rápido, Ecologicamente correto, Não poluente e Seguro.
Repetindo, dia 30 de abril estaremos comemorando os 168 anos da inauguração da Mauá, a 1ª. ferrovia do Brasil, que nasceu justamente no Estado do Rio de Janeiro. Já estão programados eventos em Guia de Pacobaíba e na estação ferroviária de Nogueira, em Petrópolis (nome oficial da 1ª ferrovia).
Esperamos que o Executivo e/ou o Legislativo fluminense enviem representantes a esses eventos para tomarem conhecimento acerca de alguns projetos sobre trilhos que podem alavancar o Turismo no interior do Estado e a melhoria da mobilidade urbana na Região Metropolitana do RJ. Oremos, pois.
Autor: Antonio Pastori: Conselheiro da Associação de Engenheiros Ferroviários-AENFER, e membro da Associação Fluminense de Preservação Ferroviária-AFPF.