terça-feira, 10 de março de 2020

PRÉDIO DA EXTINTA RFFSA ESTÁ NO ROL DOS VENDÁVEIS



Em 2004, foi editada uma lei concedendo à classe de trabalhadores ferroviários um reajuste salarial de 110%, graças ao poder de greve dos sindicatos da categoria atuantes de então. Todavia, apenas 30% foram incorporados aos contracheques de cada servidor que fazia e ainda faz o trem andar (circular), por estes Brasis afora. Nos anos seguintes, a estatal iniciou e concluiu a construção da obra da Praça Procópio Ferreira, 80, ao lado do prédio da Estação D.Pedro II, da saudosa Estrada de Ferro Central do Brasil, onde está instalado o relógio da torre.

Esse imóvel,  pejorativamente,  é conhecido como o prédio dos 80%, pois, segundo consta nos meios ferroviários, a diferença não paga a classe, propiciou a edificação do ícone, que, desde 2007, deixou de ser a sede, que, hoje, abriga, em poucos andares, a  Companhia Brasileira de Trens Urbanos, uma das poucas subsidiárias da ex-empresa e de algumas autarquias.

A Secretaria de Coordenação do Patrimônio da União (SPU), segundo matéria publicada em O Globo (08-03-20), cogita em alienar considerável número de bens, em torno de 3.823, até o final do mandato do presidente Jair Bolsonaro,  e a relíquia ferroviária está inclusa. A expectativa é a de arrecadar, aproximadamente, R$ 36 bilhões, com a venda de todo o patrimônio, diria eu, ocioso,
O prédio da extinta RFFSA é de boa construção, muito funcional, de boa localização e  está sendo subutilizado com vários andares vazios. O governo, para acelerar o processo de alienação, editou, no final de 2019, uma medida provisória (MP), que, transfere atribuições para o setor privado  na condição de adquirente desses imóveis.

A se concretizar a venda, este bem será, praticamente,  um dos últimos, afora algumas lindas arquiteturas de estações, como a de Barão de Mauá, da ex-Estrada de Ferro Leopoldina, no Rio, em estado deplorável, caindo aos pedaços e só não aconteceu por estar totalmente escorado e jogado às moscas e servido de abrigo aos desafortunados da sorte. Até hoje, a rigor, não tem responsável direto, se a União (IPHAN) ou RJ.

Prevê-se que, se bem vendidos, renderão alguns bilhões, a fim de que sejam aplicados na revitalização e recuperação de alguns trechos de linhas para a volta dos trens de passageiros-turismo, que será fonte de arrecadação e de empregos no RJ, sem embargos.

Registre-se que parte desse processo também estaria sob a responsabilidade da iniciativa privada. A União ficaria apenas com a atribuição de  regulamentar a situação e abrir o certame público, em que o primeiro interessado adquirente teria a prioridade. Assinale-se que o empreendedor adquirente dispõe de capacidade organizacional na tratativa dessa matéria e não teria dificuldades operacionais.

A nova Secretária Nacional Especial da Cultura, “no tempo e no espaço,” precisa ater-se às competências e funções do  IPHAN, ao qual coube cuidar dos bens da extinta RFFSA, que estão ao Deus dará, deteriorando-se às intempéries nos pátios cobertos por verdadeiras florestas, ao longo dos trechos de linhas abandonados. Um crime!

Em verdade, em verdade, os governantes federais, por décadas e décadas, não procederam a um inventário  minucioso,  rigoroso e detalhado do imenso patrimônio ferroviário, de grande valor financeiro, histórico e bibliográfico, este último,  rico em publicações sobre a engenharia ferroviária.
Espera-se que as autoridades brasileiras transfigurem-se e saiam desse casulo, desse sono nefasto que prejudica sobremaneira o rico patrimônio ferroviário existente no País, suscetível ainda de recuperação, desde que o espírito patriótico “baixe” e se incorpore nessas criaturas, que se apoderaram dos cargos, para cuidar das coisas do Brasil.

Genésio Pereira dos Santos/Advogado/Jornalista/Escritor/conselheiro da AENFER.

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