terça-feira, 9 de junho de 2020

SuperVia altera circulação de trens e transforma ramal Santa Cruz em parador

Concessionária diz que mudanças serão avaliadas para a possibilidade da operação se tornar permanente




Rio - Durante décadas o carioca pede por uma reformulação no sistema de trens da SuperVia. Entre as maiores reclamações dos passageiros estão os intermináveis atrasos, o sistema de sinalização, a falta de conforto e as viagens longas. Em 2020, a concessionária decidiu começar uma mudança que promete deixar tudo isso para trás. A partir de segunda-feira o ramal Santa Cruz deixou de fazer o serviço expresso e realiza, a partir de agora, apenas a operação parador desde a estação final até a Central do Brasil.
A alteração no percurso é feita com a descontinuidade do ramal Deodoro e, com isso, a linha que atende à Zona Oeste opera também para passageiros da Zona Norte. A SuperVia decidiu continuar com o serviço expresso apenas para quem utiliza o ramal Japeri, que vai para a Baixada Fluminense. Este segue com o percurso habitual, parando apenas nas estações São Cristóvão, Maracanã, Engenho de Dentro e Madureira, antes de Deodoro. A passagem segue com o valor de R$4,70.
Ambos os ramais, Santa Cruz e Japeri, têm históricos de superlotação, mas de acordo com a concessionária, a exclusão do ramal Deodoro é feita para que as composições não precisem mais aguardar pela sinalização para seguir com as viagens, já que não irão mais dividir o mesmo trilho. A informação dividiu opiniões nas redes sociais e usuários que precisaram do trem esta segunda-feira reclamaram que a mudança trouxe ainda mais atrasos para a operação do ramal Santa Cruz.
O professor Diogo Lirio, de 29 anos, mora em Paciência, na Zona Oeste, duas estações antes de Santa Cruz. Ele tem ido para o Centro do Rio apenas às segundas-feiras e conta que além dos trens estarem mais cheios, mais pessoas não estavam com máscaras e que o tempo de viagem aumentou em 20 minutos. Na opinião de Diogo, a mudança afasta o morador da Zona Oeste não só para trabalhar como para acompanhar o ritmo do Centro e consumir cultura.
"O transporte público na Zona Oeste é lamentável, muitas vezes só sobra o trem como opção. Essa mudança deixa a viagem bem desconfortável visto que tenho que ir em pé e ainda enfrentar um tempo maior. O ramal de Deodoro acabou e Santa Cruz está atendendo a demanda dos dois sem botar trens a mais e com o mesmo intervalo entre eles", disse.
Em contrapartida, alguns usuários aprovaram, mas mesmo assim, apontaram erros na operação. Mateus Braga, de 23 anos, disse que a viagem entre Santíssimo, na Zona Oeste e Madureira, na Zona Norte, ficou mais curta, mas que ainda é cedo para ter uma análise completa.
"Isso me favoreceu porque o trem parador que sai de Campo Grande vem bem vazio e eu não demoro tanto até a minha estação. Mas, olhando como um todo, aqueles que pegam saindo de Santa Cruz, sentiram muita diferença, pois, este sim, está indo muito cheio. Tão cheio quanto dias normais antes da pandemia. E em tempos de coronavírus fica inviável entrar num trem tão cheio assim", comentou.
O pesquisador da Casa Fluminense, Guilherme Braga, diz que a SuperVia não apresentou nenhum documento técnico e que os informativos divulgados pela empresa não são totalmente claros, além da mudança ter sido divulgada com pouco tempo hábil para que todos os passageiros tenham ciência da situação.
"O vídeo apresentado no site cita apenas alguns motivos que justificariam a mudança. No entanto, não há a comparação de intervalos previstos no pré e pós-mudança, assim como a SuperVia não apresenta uma previsão de oferta de lugares por sentido nem uma estimativa de tempo de viagem", explica.
Guilherme lembra que quando os 40 trens chineses foram tirados de circulação, o aviso também foi divulgado um dia antes da mudança.
"É muito ruim que duas notícias que causam tanto impacto tenham sido informadas tão em cima da hora, sem tempo para reação da sociedade civil e da própria imprensa. É possível supor que a SuperVia já tinha essas alterações planejadas com mais antecedência, pois não são mudanças pontuais. Causa incômodo o fato delas terem sido comunicadas tão em cima da hora", completou.
A SuperVia alega que todas as alterações serão estudadas em prática e caso funcionem, elas poderão ficar de maneira permanente. Guilherme diz que o isolamento social e a grande da parte da população que segue em casa alteram a percepção da demanda pelos trens e que qualquer avaliação feita neste período, do ponto de vista científico, estará comprometida.
"Nós sabemos que as atividades ainda estão sendo retomadas, que muita gente já está usando os trens para ir ao trabalho, mas o fluxo ainda não é o mesmo do período pré-coronavírus. As próprias concessionárias de transporte fazem questão de ressaltar que o movimento atual não é o mesmo de antes, quando apresentam suas queixas sobre queda de receita", detalha.
Ação coletiva
Uma Ação Popular foi aberta nesta terça-feira, na 13° Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro por Victor Almeida, conhecido por administrar a página "Suburbano da Depressão". Ele pede que a Justiça tome providências contra a integração do ramal Deodoro ao ramal Santa Cruz e explicações à Supervia sobre a mudança.
Ele divulgou um abaixo-assinado para que a ação pressione os magistrados que irão analisar o pedido.
Fonte: O Dia, 09/06/2020

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